Entre os dias 13 e 17 de março realizou-se, em Salvador, o Fórum Social Mundial. O evento reuniu cerca de 30 mil pessoas em plenárias, mesas de discussão, atos, oficinas e atividades culturais. Junto a redes que integra nacional e internacionalmente e entidades parceiras, o Intervozes participou de discussões sobre o campo do direito humano à comunicação e os rumos da democracia no Brasil e no mundo.
Na sexta-feira, 16, o Coletivo lançou, com apoio da Fundação Friedrich-Ebert-Stiftung (FES- Brasil), o Relatório Direito à Comunicação no Brasil 2017, compilado de artigos analíticos sobre a situação das políticas de radiodifusão, acesso à Internet, comunicação pública e o estado dos direitos humanos na mídia e da liberdade de expressão no país.
Durante o debate, Gizele Martins, jornalista e comunicadora popular da favela da Maré, denunciou a execução da vereadora Marielle Franco, ocorrida dois dias antes, e o estado de exceção em que vivem os comunicadores comunitários no país: “liberdade de expressão e democracia pra gente é ficção”, disse. Damian Loreti, professor da Universidade de Buenos Aires, que contribuiu no processo de elaboração da Ley de Medios, destacou que o monopólio privado da mídia segue sendo o principal algoz da democracia na região: “toda a América Latina sofre com a concentração de mídia. Os casos argentinos e brasileiros são irmãos, por isso achamos que a ley de medios é um caso a ser analisado, melhorado para que sirva de modelo”, defendeu.
Flávia Lefévre, integrante da Coalização Direitos na Rede e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet no Brasil, explicou que a alteração no regime de prestação de serviços de telefonia e Internet também em curso no governo Temer pode aumentar ainda mais o fosso que separa conectados e desconectados no país. “Necessário fazer oposição e barrar o PLC79 que quer privatizar nossa rede de acesso à Internet e dificultar ainda mais o acesso das populações mais pobres à banda larga”, declarou.
Segundo Alex Pena Hercog, coordenador do Relatório, a ideia da publicação é trazer um panorama e também apontar gargalos quem impedem a garantia dos direitos violados. Por isso, além dos artigos, traz recomendações ao poder público e às empresas sobre os temas trabalhados.
Democracia à deriva
A partir do mote “Resistir é criar, resistir é transformar” um dos principais temas em discussão no FSM2018 foi o combate à agenda de retirada de direitos intensificada desde o golpe que tirou Dilma Roussef da presidência. Junto a outras entidades que compõem a Plataforma Dhesca, o coletivo discutiu o impacto das políticas de austeridade nos direitos humanos. Ana Cláudia Mielke, coordenadora do Intervozes e da Plataforma, destacou a forma como tais medidas afetam o direito à comunicação: “Após um ano da aprovação do teto de gastos, vemos se intensificar o congelamento das políticas de acesso e inclusão digital e o desmonte da comunicação pública”, denuncia. Durante a ocasião foi apresentada a agenda da campanha Direitos Valem Mais que inclui 10 dias de ativismo pela revogação da Emenda Constitucional 95.
Mídia Livre
Reunindo representantes da Inglaterra, França, Alemanha, Argentina, Brasil, Equador, Canadá, Marrocos e Palestina, o Fórum de Mídia Livre integrou a programação do FSM com duas atividades: uma roda de conversa que debateu o futuro da organização e o lançamento da publicação Mídia Livre: temas, desafios e propostas (na tradução para o português). A revista, coordenada pelo Intervozes, traz 15 artigos, escritos por ativistas de diferentes países, em inglês e em francês. O compilado ainda está em fase de finalização mas os artigos já estão disponíveis online. O Fórum Mundial de Mídia Livre nasceu no Fórum Social Mundial 2009, em Belém, a partir da articulação de comunicadores comunitários, midiativistas de diferentes países.